domingo, 30 de outubro de 2011

Sequestrados em Salvador

Chegamos à rodoviária de Salvador, tranquilos e com um largo tempo para o ócio da espera, reservado a possíveis imprevistos e para conversas aleatórias de final de viagem. Precisávamos chegar a Feira de Santana que ficava a cerca de 120 km, porque havíamos comprado passagens partindo de lá para retornarmos à nossa terra, Tocantins, e sabíamos que os ônibus de Salvador para Feira de Santana partiam a cada 20 minutos.
Chegando próximo ao guichê, nos deparamos com uma fila contendo algumas centenas de pessoas. Acredito que isso se devia a estarmos em dia pós-carnaval. Por nossos cálculos concluímos que só pegaríamos o sexto ou sétimo ônibus, e assim não chegaríamos a tempo para pegarmos o nosso Ônibus em Feira, mesmo assim permanecemos na fila olhando um para o outro sem querer acreditar nas consequências daquilo.
Ao lado da fila, perueiros e taxistas gritavam na tentativa de angariar clientes, e todos da fila os ignoravam, e nós, até que resistimos um pouco, mais não teve jeito. Estávamos em cinco e fomos puxados cada um por um perueiro diferente, chegando ao estacionamento vimos várias Kombs, todas em péssimo estado de conservação, contendo em seus interiores, objetos, animais e aparatos estranhos, desde galinhas, carroça de mão e sacos lacrados de natureza desconhecida. Olhávamos um para o outro, cada um sendo empurrado e ameaçado para entrar em uma Kombi diferente, enquanto isso os perueiros brigavam entre si para ver quem nos ganhavam.
Certo momento chegou uma pessoa ao meu lado e discretamente me disse: “Vocês estão loucos de irem nessas Kombis . Hoje estão fazendo uma barreira policial na rodovia e nenhuma delas passa”, e acrescentou: Sou taxista e levo vocês. Já cansado daquela confusão, procurei entre a multidão meus companheiros e rapidamente entramos no taxi, ou pelo menos era o que o motorista havia dito, mas ele era mais um aventureiro em um carro tão perigoso quanto as Kombis.
Já dentro do automóvel percorri com os olhos a face de cada um, que em silencio dizia “não acredito que entrei aqui”. Contudo, éramos estudantes e nessa fase, quanto maior a desgraça, maior a graça, pelo menos pra mim. Ensaiamos alguns diálogos que logo se transformou no longo e excêntrico monologo do motorista. Nesse dia ele não sabia como ia entrar em casa porque na noite passada havia flagrado sua esposa com o Ricardão e a casa estava caindo. Nosso silencio só era quebrado para reclamarmos da velocidade que sempre marcava 120 km por hora, até quando parado, mais ele justificou sua pressa, o carro estava sem farol e estava anoitecendo, para isso fazia ultrapassagens dignas de video game.
Chegou a hora da barreira policial, e eu tranquilo por que esse foi o motivo de irmos com ele, “ele não tinha problema com barreiras policias”. E não tinha mesmo, ao se aproximar fez uma manobra para a direita, saindo da rodovia por uma estradinha de barro, nesse momento o silêncio e o medo tomou conta de todos, arrisquei a perguntar o motivo do sequestro. Explicou que estava apenas pegando um atalho para não passar pela barreira, continuou o trajeto obscuro, subindo por um morro em uma favela. Nunca havíamos entrado em favela. Pensei que estávamos prestes a sermos vítimas de uma tocaia, pois  durante o percurso, sempre em alguma esquina havia aglomerações de pessoas, do tipo “vários manos sem camisa”, e ao passar por eles o motorista reduzia bastante a velocidade.
 Não era uma tocaia, passados uns 10 minutos, voltamos novamente á rodovia, e continuamos nossa viagem em velocidade máxima, alguns rezavam, outros riam das histórias do taxista, e eu estava curtindo, pelo menos tivemos mais adrenalina em nossa viagem.

4 comentários:

  1. Nossaaa, como vcs tiveram coragem de entrar nesse taxi?? aff

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  2. Foi a alternativa que imaginamos ser mais viável..rs. E no final conseguimos chegar a tempo em Feira.

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  3. Já fiz isso Vini!!! E foi recentemente qdo peguei um carro desses clandestino para Natal/Pipa..kkkk
    Andréia

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  4. "Contudo, éramos estudantes e nessa fase, quanto maior a desgraça, maior a graça, pelo menos pra mim".
    Essa frase resume tudo :P

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